domingo, 12 de novembro de 2017

Atravessamentos da Língua


Foi no meio de uma semana
De trabalho em Sampa,
Que a carioca aqui,
Ficou surpresa à pampa.

Fechada a contragosto,
Entre reuniões sem sutileza,
Atravessei a Praça da Luz,
À procura de alguma beleza.
Um monumento iluminou meu rosto,
Com sua grandiosa clareza
E a entrar me dispus,
No Museu da Língua Portuguesa.

Quanta história, quanta memória, quanta vivência!
Quando pensei ter percorrido tudo que era possível,
Eis que veio a experiência,
Inesquecível!

Na voz de Maria Bethânia,
Guimarães Rosa
E um sertão inteirim
De linguagem contemporânea
Passou por mim.
Fiquei toda suspirosa.
Cora, Clarice, Leminski, Jobim.

Em plena quarta-feira,
Na linha direta de Xangô,
Poesia me atravessou,
Era Vinícius!
Céu de estrelas se iluminou.

Saravá, Bahia!
Dorival chegou!
Jorge Amado me transpassou,
Caetano cheio de melodia,
Me desconsertou.

Devagar se infiltrou em meu ouvido,
Um moço chamado Chico.
Foi direto ao coração!
Meu corpo estremeceu de arrepio,
Senti calafrio,
E não cheguei à conclusão,
De como o tal moço atrevido,
Me causara tanta emoção!

Pássaros sobrevoavam
Aquele cenário de poesia
Gonçalves Dias chorava,
Manuel Bandeira sorria
E eu ali em estado de graça
E euforia.

Sonetos luminescentes pulavam de repente.
Palavras efervecentes, entorpecentes
Neoconcretas,
Entravam e saíam da gente, incessantemente,
Com rimas embriagantes, viciantes
E diretas.

Eu pecadora e inocente,
Sendo violada e invadida,
Pelos atravessamentos daqueles poetas,
Tonteei com um deleite indecente,
Arrebatada e decidida:
Deixaria a partir desse dia,
Todas as minhas portas abertas.

Mérilin Silveira

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