segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Fragmentos


Sou um caracol lunático
A espera desse sol que queima
Sou a vítima
Ou a bala que mata deixando no ar a pólvora

Meu quarto meu refúgio
Lugar em que me distancio de um cotidiano enjoado
E há gente enjoada me procurando
              
Sou um caracol que se esconde
Desse caminhar desenfreado de homens que procuram queimar
A energia
Sou eu a energia a povoar as quatro paredes que me prendem

Sozinho estou feito um caracol que anda sonâmbulo
Numa folha de verdura molhada de água de chuva
Sozinho
A sós
Sem compreensão e sem sorriso
Sempre na espreita do que pode acontecer...

Faço das coisas brinquedos
Meu membro ereto é um brinquedo que dilata
Dilata porque o sangue corre nas veias
Esse sangue de excitação e orgia

Desfaço em lágrimas
Meu corpo magro vai minando água urina e secreções
Daí a pouco serei uma poça indesejada

Como é difícil olhar para cima e não sentir vertigens
Como é difícil matar alguém e não deixar vestígios

Não carrego velas nem mastros
Afogarei num mar de descrenças e aceitações obrigadas

Quem me dera engolir-me
Evacuar-me
Evacuado não mais seria eu um caracol sonâmbulo a andar
Em meio a um jardim que desconheço

Evacuar-me perante os outros
Evacuar-me perante o que é sombrio
Evacuar-me diante de quem me deseja

Não ser desejado
Mas ser dissimulado
Feito um caracol lunático que caminha ás tontas numa folha
De alguma verdura

Lívia que me deixou no início da primavera
E sem falar em outras tantas que me largaram em cada estação
Sou o caracol lunático dessas mulheres que me apertaram
Com tanta fome e destruição

Sou e pronto
Um caracol que arrasta calmamente sua carcaça
Numa folha de vegetação molhada pelas gotas de chuva

Fernando Barros

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